A “revolução” tecnológica da construção civil
- André Bianche
- 23 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Uma vez mais me deparo com uma notícia desconfortante em meio àquela que se apresenta como a maior crise econômica de todos os tempos.
No ano de 2021, em meio à ainda incontrolada crise sanitária relacionada à pandemia do corona vírus, a apresentação de novas tecnologias de construção civil baseada em impressão 3D, totalmente automatizada, com a necessidade mínima de mão de obra humana, é recebida de forma quase eufórica pelos repórteres e profissionais da tecnologia como sendo a solução para os problemas da habitação no planeta.
Acompanho com certa angústia a conivência de profissionais de arquitetura e engenharia, que, de forma irresponsável e totalmente desprovida de compromisso social, aplaudem de pé o crescimento mercadológico das novas técnicas de construção, muito mais econômicas, com suas paredes em formas orgânicas, totalmente construídas através de confeitos de concreto cremoso, resistentes a furacões e terremotos, garantindo que é só uma questão de tempo a adaptação do mercado da construção civil aos novos e promissores tempos.
Sabemos que as construtoras, de todos os portes, com suas estacas de fundação firmemente encravadas nas flexíveis e nefastas regras da especulação imobiliária, estarão a postos para experimentar esse novo mundo de rapidez e economia em seus empreendimentos imobiliários, sem se importar com os postos de emprego criminosamente dissipados.
Segundo especialistas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), conforme noticia o site UOL Notícias, o crescimento do PIB da construção civil aqui no país será de 4% em 2021. Esse crescimento, que não é sentido desde 2013, não conseguirá por si só resolver os problemas sociais causados pela crise, mas terá sensíveis reflexos na economia de forma geral e, certamente, na redução do desemprego e, por consequência lógica, das desigualdades sociais.
A evolução tecnológica deve vir acompanhada de responsabilidade social
Como entusiasta descarado da pesquisa científica, não pretendo aqui, em hipótese alguma, me apresentar como um crítico desestimulador à criação de novas tecnologias. Entretanto, entendo que seria necessário, neste momento de fragilidades sociais, um olhar um pouco mais atento às tecnologias que resultem na criação de empregos e meios de geração e distribuição de renda, até mesmo com vistas à manutenção desse desejável aquecimento do mercado imobiliário, associadas à efetiva elevação do poder de compra de imóveis em todos os níveis sociais.
A pesquisa científica mais benéfica, neste momento, me parece ser aquela que objetiva a redução do impacto ambiental, criando novas técnicas de construção, com o estudo de materiais e soluções que, além de reduzir agressões à natureza, trazem economicidade e rapidez às obras. Tais soluções apontarão, certamente, para a capacitação de mão de obra especializada como parte do conjunto de políticas públicas verdadeiramente inclusivas, resultando, de forma eficaz, no verdadeiro desenvolvimento econômico e social.
Sobre a novíssima e eficiente máquina de fazer maquetes em tamanho real, penso que terá aplicabilidade garantida naqueles ambientes em que, por motivos adversos, como insalubridade e periculosidade, a mão de obra humana seja inapropriada. Torço sinceramente para que esses mesmos motivos adversos mantenham minhas vistas distantes de tais exemplares da arquitetura digital contemporânea, de qualidade estética tristemente inadequada.

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